O termo inglês “cringe” surgiu como uma gíria para se referir a momentos vergonhosos ou constrangedores. No Brasil, a geração Z (nascidos entre 1995 e 2010)  logo transformou a palavra em um sinônimo para “cafona”, numa forma provocativa de se referir aos hábitos dos millennials (1981 e 1996). 

Nos anos 1970, por exemplo, as casas eram todas em plano aberto. O tempo passou e isso se tornou fora de moda. Nos anos 2000, porém, o conceito voltou a ser um dos trends preferidos dos projetos de arquitetura. Seria justo, então, debochar do que foi moda em outra época?

Que atire a primeira pedra quem não se deslumbrou com um painel feito com papel de parede. Nos anos 1990 era comum decorar o cômodo todo com ele ou decorar uma parede com desenhos de paisagens de florestas, flores e, quiçá, com uma foto da família feita. Hoje, certamente, isso seria cringe.

Década de 1960, heranças nada cringe

A sociedade dos anos 1960 já havia começado a romper as amarras de estilos de época. A ânsia por liberdade se refletiu na arquitetura e decoração.

No final da década, o movimento hippie trouxe algumas novidades que hoje fazem parte de uma lista de preferências da Geração Z: o famoso puff, os móveis de vime e a cadeira Eureka, com seu modelo suspenso e estofado, são sucesso até hoje.

Década de 1970, tudo junto e misturado

Foi nos anos 1970 que se popularizou o método DIY (Do It Yourself) ou faça você mesmo. Com a cultura hippie ainda presente, os punks tentando impor o seu estilo e o movimento feminista ganhando força, o cenário estava propício à efervecência, que se refletia num décor no melhor estilo “tudo junto e misturado”. 

Nos dias atuais, a pelúcia, que foi sucesso na Geração X (1960 e 1970), decora ambientes modernos e pode até dar  tom em banheiros inteiros. 

Década de 1980, o exagero do mais é muito mais

O conceito de projeto exclusivo foi difundido nos anos 1980. Mas isso não diminuiu os excessos. No Brasil, uma casa toda decorada com móveis em jacarandá e muito papel de parede era considerada sofisticada. Atualmente, em tempos de consumo consciente, ter uma decoração toda em madeira maciça é até uma afronta ecológica.

Em 2020, numa nova leitura, os papéis de parede, dos florais aos abstratos, voltam a ser uma tendência como alternativa prática para renovar o lar.

Década de 1990, a globalização de estilo

Os noventistas, por sua vez, foram privilegiados com o acesso aos computadores e celulares. Isso ajudou a popularizar projetos de decoração e ampliar o leque de opções aos consumidores. Mas isso não necessariamente significa bom gosto.   

Em resposta à mistura de estilos, veio a proposta de usar tons pastel em tudo, dos móveis à decoração. E, na tentativa de trazer mais transparência ao ambiente, foram criadas as paredes com blocos de vidro e até os móveis infláveis. 

Tempo de pandemia e a necessidade de conforto

Com o isolamento social, as pessoas passaram a olhar para o lar de uma maneira diferente. A necessidade de aconchego se estabeleceu. E, com ela, as memórias afetivas. É a volta do estilo casa da avó, com suas cortinas estampadas, babados e artesanatos feitos à mão. Como se vê, uma decoração cringe não é ser cafona, mas sim um reflexo da forma como as pessoas se relacionavam com o interior de seus lares em cada época. O limite entre o ser ou não ser cringe, na verdade, está no bom senso e no quanto o resultado diz respeito ao seu estilo e bem estar.